CONTRA OS ACADÊMICOS

Qual é a relação entre felicidade e verdade? E qual é o caminho que conduz à verdade?

A vida feliz consiste apenas na investigação da verdade? Ou a felicidade é alcançada quando se encontra a verdade?

Existe uma verdade a ser investigada? Se existe, que verdade seria essa?

Seria possível ser um constante investigador da verdade sem jamais encontrá-la? Se não é possível encontrar, então por que investigar?

Esta é a primeira obra escrita por Agostinho, conhecido como bispo e doutor da igreja, logo após a sua conversão ao Cristianismo e faz parte de “Os Diálogos de Cassiciaco”, redigidos entre novembro de 386 e março de 387.

Neste primeiro diálogo, Agostinho e seus interlocutores (Licêncio, Trigésio e Alípio) exploram a história e os ensinamentos do ceticismo acadêmico, ao qual Agostinho é simpático e crítico. 

Quem eram os acadêmicos? Por definição somos levados à Academia de Platão. No entanto, não devemos entender que Agostinho era contra os discípulos de Platão, mas, na sua obra, buscou dar os primeiros passos para a defesa de seu pensamento contra aquilo que não fazia mais sentido para sua nova vida.

Após esse debate com seus interlocutores, Agostinho, então, conclui que o homem pode chegar à verdade ao contemplar o clemente Deus, que se rebaixou e se submeteu à autoridade de seu próprio intelecto divino até o nível da humanidade, para dar a humanidade a oportunidade de chegar à Verdadeira Verdade, a qual ele (Agostinho), “tendo desprezado todas as outras coisas que os mortais julgam ser boas”[i], se propôs investigar, não somente através da fé, mas também do intelecto, aquele que é verdadeiro, que é a Verdade.

A sociedade pós-moderna acredita que não existam verdades absolutas no mundo. Segundo o pensamento pós-moderno todos temos os nossos valores, as nossas verdades, os nossos absolutos e queremos impô-los ao mundo.

Todavia, para muitos pensadores cristãos “toda verdade é verdade de Deus, e que toda verdade vem de Deus”[ii]. No entanto, o autor desta resenha infere que toda verdade deve estar submetida à verdadeira Verdade que não pertence a este mundo. E aquele que ousar abraçar esta Verdade será verdadeiramente livre para julgar as verdades que a pós-modernidade tem como relativas.

Como resposta às perguntas iniciais da presente resenha podemos concluir que, segundo o pensamento de Agostinho, a razão sozinha é insuficiente para alcançar a verdade, a não ser que ela seja encontrada pela verdadeira Verdade, e a verdadeira Verdade conduzirá o homem à felicidade.

Que você seja feliz ao deixar-se ser conduzido pela Verdade.

AGOSTINHO, Santo, bispo de Hipona. Tradução: Enio Paulo Giachini. Contra os Acadêmicos. Petrópolis, RJ. Editora Vozes, 2014. 112 p.

por Aguinaldo Cabral

aguinaldo-cabral@hotmail.com


[i] Cf. Filipenses 3:1-11
[ii] R. C. Sproul. O Que é Fé. Ed. Fiel, 2012. p. 19

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *